quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Chuva

Ninguém vai dormir aqui.

Não quero esconder minhas infelicidades

atrás de um rosto que se desfaz e sorri,

embaixo de um já amargurado travesseiro

ou esquecer tudo nas visões ilusórias dos sonhos que virão,

mais parecem saudades.

Quero ouvir a chuva lá fora bater com força na telha.

Poderia ser minha carne.

Quero ouvir a chuva molhar a terra.

Poderia ser meu sangue derramado na guerra.

Quero ouvir a chuva cair.

Poderia ser meu corpo, minha causa.

Que causa?

Não tenho causa, sou chuva sem propósito, que cai, e só cai.

“Feche os olhos, meu filho, e pense em algo bom”.

“Mãe, já pensei. O que eu faço quando abrir os olhos e vir que nada do que eu pensei existe?”.

“Existem coisas que você não pode ver. Só sentir. A chuva está lá fora.”

Chuva

Passos apressados, o rapaz olha pro relógio, a senhora da um pulinho para cima da calçada evitando ser atropelada, segue em passos tranqüilos após isso como se nada tivesse acontecido, afinal, isso é São Paulo, cidade que não dorme, todos apressados e mal alimentados, vários escravos do relógio transitando como vítimas aleatórias de um tabuleiro de asfalto e concreto.

A água do céu castiga, os guarda-chuvas se esbarram pelo corre-corre do centro, um homem se esconde embaixo do terno, outro corre com um jornal sob a sua cabeça, na esquina da frente pode-se ver um táxi dando um banho nas pessoas mais desatentas ao passar sobre uma poça d’água, uns gritam, outros xingam indignados, os mais acostumados seguem a seu destino sabendo que permanecerão molhados independente de quando resmungarem. Moto boy com sacolas amarradas em suas botinas, office boys com o tênis aberto em baixo tendo de trabalhar o dia todo com os pés ensopados, protegendo os documentos contra a rasura da chuva e esquecendo-se de se proteger contra a gripe, a pneumonia...

Chove em São Paulo, o trânsito sofre a nítida conseqüência da vagarosidade, já não temos mais horário, agora dependemos da boa vontade do tempo.

As ruas viram piscinões, os barracos são alagados, casas de madeira viram brinquedos de papel, móveis são perdidos e sonhos afogados, chove em São Paulo.

No cefé a água escorre pelo vidro e a água caindo incansável torna mais aconchegante o cenário de um casal apaixonado, chuvinha gostosa que embala o namoro, a fumaça quente de um copo de chá, dedos cruzados, chove em São Paulo... a melhor das condições climáticas para se descansar de não fazer nada, um friozinho e uma coberta, o barulho da água nas telhas, o homem dorme enquanto a chuva castiga, sua preguiça se estica por mais horas do que de costume, o corpo aquecido pelas cobertas, sem duvida, essa “chuvinha” convida para a cama.

Mendigos foram acordados por ela, suas cobertas estão encharcadas, seria uma piada de Deus? Por que dessa chuva toda levando seus castelos de papelão, tornando a disputa por um espaço em baixo do toldo quase uma questão de violência, “maldita seja essa chuva!” se ouve um grito engasgado por de trás de barbas brancas, roupas rasgadas e uma pele suja, pés descalços pisando nas poças correntes trazendo leptospirose e hepatite.

Enquanto paralelamente, sob o solo rachado e matos caídos, o menino ajoelha-se frente aos galhos secos de uma árvore morta, os olhos fechados, a testa lavada pelo suor que escorre de seus olhos a sua barriga, os dedos cruzados, a garganta seca “meu Deus, faça que um dia a chuva chegue até aqui pra minha mãe descansar, pra regar as plantinhas e lavar nossa terra”.

A pele escura e um pano enrolado em sua cintura, um braço aberto mantém o equilíbrio do corpo o outro apóia um latão d’agua sobre sua cabeça, a imagem da mãe surge aos poucos em uma linha do horizonte, ali estava o remédio pras feridas do filho, a água do feijão, o “lava roupas”, o banho, o suco e a vida, dentro de um balde buscado a kilometros de seu lar de madeira, tesouro que talvez só seja visto no próximo mês,

Será economizado e valorizado, como tudo que se adquire no Nordeste, o menino sorri satisfeito e abraça sua mãe.

Na cidade o drama do caos, o pesar do dilúvio, casas já não existem, famílias tendem a se abrigar em qualquer outro canto, seja albergue, seja uma ponte. O que fora conquistado a anos de suor, puxando uma carroça, catando papelão, vendendo latinha, a chuva levou, o pai de família pega um filho em cada braço, o mais velho caminha, a esposa resmunga, ele agradece a Deus “Senhor, cheguei a essa terra sem nada, tudo que tenho me destes de bom grado, vim do pó e a ele regressarei, nada vou levar daqui meu Pai, graças a Deus por ter saúde para conquistar tudo novamente, sozinho não sou nada, me ajude e me de forças mais uma vez meu Papai, obrigado por olhares por mim”.

O relógio desperta as 10:30 da manhã, em um colchão macio e um quarto espaçoso, o rapaz procura o celular em baixo do notebook e entre os edredons até achá-lo caído no chão perto das chaves do carro, disca um número decorado em alta velocidade e agita alegre “Eae, preparado pra praia meu brother?” a voz do outro lado manda que olhe pela janela, ao abri-la o sorriso morre e com um soco no batente as palavras expressam o desanimo “não acredito nisso, ta chovendo! Que vida de merda, as coisas nunca dão certo pra mim! Valeu mesmo em Deus!”

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Infidelidade/ Traição

Em tons confessionais...


De meros desconhecidos cuja vista sequer se encontrava, passamos rapidamente a íntimos confidentes. Com a mesma rapidez que a vida se trouxe, fez questão de se tornar tão próximo a mim que juntos não éramos nada senão aquilo que mais se aproxima do significado de cumplicidade. Havia empregado para isso uma faceirice tão forte a ponto de destronar a timidez reinante das primeiras palavras. Veio até mim caminhando. Eu mal andava. Em pouco tempo corríamos juntos.

Eu procurava fazer dos meus movimentos algo que se assemelhasse aos seus. A qualquer tropeço, não temíamos a queda e a aspereza do chão, pois sabíamos que encontraríamos amparo no aconchego do braço um do outro. Toda injúria proferida contra um de nós encontrava no outro um defensor ferrenho e seu principal revogador. Nossa relação se construía na diversão, consolidava-se na provação e como resultado transbordava confiança, a fazer acreditar quem nos visse falar do outro que a amizade que nos unia havia evoluído, e esse novo sentimento era, na verdade, o que proporcionava tal elo entre nós. Como se a só amizade já não fosse suficiente para manter unidos dois seres e que houvesse estágio superior a ela.

Aqueles contratos a que se propõem os amigos inseguros do estado de felicidade de que gozam não eram necessários entre nós. Tudo estava implícito entre nós. Ao “eu te amo” era acrescido por meio de um olhar o “eternamente”. E isso bastava. Era absorto em toda essa prazerosa condição que eu arriscava lançar-me ao vale das sombras munido apenas de suas lembranças e de uma certeza. A de que você estaria me esperando ao final de tão tenebroso caminho.

O que aconteceu para que tão surpreendentemente quanto o arrebatamento que o trouxe a mim, tornasse você a fonte das injúrias; o responsável por me levar ao solo das formas mais bruscas. Subitamente. Sem motivos aparentes nem aviso prévio sua conduta foi minando tudo que de melhor poderia existir entre duas pessoas. Traiu, então, aquele olhar que tendia ao infinito sem se abalar e transportava-me com igual tranqüilidade para qualquer lugar dessa imensidão, aquele olhar que eu podia confiar cegamente que me poria tão logo eu quisesse sob o conforto de seu alcance.

Não devia ter semeado em mim a semente da confiança se tinha ciência da sua limitação em não conseguir preservar aquilo que com os olhares não se cansava de declarar.

Infidelidade/ Traição

Traição, infidelidade, palavras bem fortes...

Talvez palavras das mais fortes, pois a partir delas você pode quebrar toda a postura de um homem, pode-se ver se o seu caráter um dia foi mascarado, se sua palavra caiu por terra.

Existem coisas que eu gosto na vida, dentre as que não gosto talvez o dinheiro seja uma das maiores, ele compra quase tudo, dá oportunidade a pessoas que nem as fazem por merecer, mas das que gosto, a maior é uma só, confiança. Ah... isso sim é uma palavra forte. A confiança é algo único, você jamais a conquistará só por ser digno de confiança, ou por estar certo, você não conquista a confiança por ser de confiança. Tá aí uma coisa que moeda alguma compra, isso você conquista sozinho, sem saber, sem perceber e sem querer, mas um dia você a conquista e enquanto for digno dela, estes são bons dias para ti.

Não importa o que digam, não corromperão sua imagem, não farão a cabeça daqueles que confiam em você, pois essa semente já floresceu, porém se um dia ela for quebrada, então tudo se acaba, nunca mais voltará a ser como antes...

E por que as pessoas deixam que isso aconteça? Eu não sei, talvez o descaso, talvez o não dar tanta importância a isso, mas certas pessoas acabam traindo a confiança e nunca mais a recuperam.

O mal maior é este, você não pede desculpas, não promete mais nada, não compra, não age, você não a tem novamente 100%, nunca mais.

Algumas pessoas gostam de estar juntas, talvez por afeto, talvez por carinho, talvez por necessidade ou talvez seja só carência mesmo, mas as pessoas assumem compromissos e daí à frente elas necessitam honrá-los. Não por aliança, não por uma gravata, um terno ou um vestido, mas por que você deu a sua palavra, você se prontificou a viver desse amor em todas as situações, na saúde ou na doença, na riqueza e na pobreza, até que a morte venha vos separar.

Mas tem as pessoas que tropeçam no meio do caminho e praticam a infidelidade. Essas pessoas não honram com o que Há de mais digno, sua própria palavra. Não importa o que aconteça, nada justifica o ato, traição, este é um pecado imperdoável na terra.

Não seria melhor não assumir compromissos se não os podem honrar? Não seria melhor simplesmente cumprir com tudo o que teima em dizer em emoção ou então não dizer nada?

As pessoas deixam de ter um valor humano quando traem, homens, mulheres, maridos, amigos, a traição é o pecado mais triste, a dor que mais fere, o sentimento que deixa a maior seqüela...um pensamento que nunca acaba, um entendimento que nunca virá.

Existem pessoas infiéis e traidoras, para todas essas pessoas fora criado seu respectivo lugar, mas a cada dia em que respirarem, vão sentir o cheiro do remorso e esse gosto eu espero que dure por toda a sua essência, desejo que seus dias na terra se prolonguem e sejam bem lentos para que possam desfrutar dos males que fizeram, nada vale uma confiança perdida.

Deus fez a Terra, o homem, os animais, os insetos, os vermes e os traidores, ele escreve mesmo certo por linhas tortas, mas o homem faz questão de rasurar tudo...

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Músculos

A academia está cheia. Cheia de corações vazios e mentes despreocupadas. Cheia de valores banalizados e aparências. Mas estão todos bonitos.
Graças a Deus as pessoas ainda malham. Graças a Deus as pessoas dedicam horas à academia, na prática de lutas, pesquisando sobre energéticos e fórmulas emagrecedoras. Sempre fico satisfeito por estas pessoas ainda freqüentarem a academia. Pense, se eles inventam de investir essas horas que passam cultuando seu próprio corpo em estudos, em aperfeiçoamento profissional. Aí sim o mercado seria competitivo. Aí seria muito mais difícil do que é hoje se destacar em um mercado onde quem tem mais condições financeiras de investir na carreia acaba tendo mais chances de conquistas. Mas as pessoas estão malhando. Eles também trabalham. Os músculos, é claro. Que pena que eu sou só um magrelo estudando, talvez as mulheres não vão olhar pra mim se eu tirar a camisa em um dia de sol.
Mas olhem bem para aqueles atletas. Como chamam atenção! Em seus braços pode se tatuar o mapa mundi. Não importa o frio, eles estão de regatinha e mesmo sem o sol lá estão os óculos escuros em seus rostos bem definidos. É! De fato eles atraem as mulheres, assim como as mulheres bem definidas certamente atraem os homens. Mas espera, esquecemos de pensar novamente. Os braços musculosos, os abdomens definidos, a massa, esse estereótipo todo só atrai o superficialismo, somente o interesse externo e vazio, sem critério, atrai o status e a dita cuja "sociedade"...
Acho que desaprenderam como se pensa. As pessoas crescem e vão ao fisiculturismo, ao halterofilismo. Será que eu sou muito ignorante ou essas pessoas não envelhecem, não morrem?
Enquanto vocês malham seus músculos prefiro malhar o meu cérebro. Se for pra exercitar algo, que se exercite algo que presta, algo que faz a diferença. Se precisarmos realmente sair na mão com um desses, sairemos no prejuízo, mas graças a Deus praticamos o dom do diálogo, em que esses modelos atraentes sairão no prejuízo, pois leram tantas bulas de probióticos que esqueceram-se de ler livros, gastaram tanto tempo tornando-se atração para modeletes vazias sem cultura e conhecimento que esqueceram-se que talvez um dia precisassem trabalhar para ter algo na vida. Ah, mas quão inocente eu sou novamente. Os seres que habitam as baladas e possuem carros e Red Bull são filhos de alguém, que conhece alguém, que é amigo do sobrinho do primo do tio da amiga de alguém importante. Talvez o mundo nem esteja tão serio assim. Talvez esses pais nunca morram, mas mesmo que isso venha a acontecer, a herança não acaba tão cedo. Mas e aqueles que não têm os pais ricos, não têm uma herança, não têm um futuro garantido, o que esses estão fazendo na academia?A resposta é tão simples: ficando bonitos ora....

Músculos

Aos seres que se escondem atrás de uma capa de músculos rígidos que envolvem os ossos, sufocam as idéias, apoderam-se dos pensamentos, e, por fim, tornam-se o pensamento! Ahhh! Olha lá. Cultuar algo que com o tempo se deteriora é perigoso. Apegar-se ao passageiro, ao transitório, os faz seres compreendidos apenas pelas idéias vigentes, dessas que não duram um verão. O que é um homem senão pó. E o que faz desse homem digno de lembrança, de respeito, se não houver outro homem que compreenda qual ventania foi capaz de movê-lo de seu lugar habitual. Toda espécie possui algo que a diferencia das demais. Não que eu goste de menosprezar a espécie da qual faço parte, mas não somos ligados à competência de nossos músculos nas altas rodas do mundo animal. Besouros podem suportar cinco vezes o peso de seu próprio corpo. Ninguém os vê gabando-se de sua força, de quão vistosos são seus músculos, vê? Será que encontramos nesse pequeno inseto um exemplo de humildade ou alguns de nossos convivas orgulham-se por pouco? Mas não comparemos ninguém a seres ditos “repugnantes “. Alguém nessa história poderia se ofender.
Eh! Às vezes também não consigo controlar os músculos de meu braço e as palavras saem como se fossem regidas pelo batimento do único músculo que me controla, como se o pulsar ordenasse cada pensamento, se os pensamentos fossem frutos desse tamborilar incessante. Que ironia! Acho que somos iguais. Também sou pó...

terça-feira, 10 de julho de 2007

Sobre lixo nas ruas...

Pisando de papel em papel senti saudades da calçada, e deparei-me cercado de irregularidades cujas quais a sociedade acabou se adaptando. Vi-me cercado de poluição. Então falemos sobre o lixo nas ruas...

O lixo do lixo do presidente falando lixo no lixo da televisão!

E nós falamos sobre o lixo nas ruas...

Proíbem a droga... a cola que é a única droga que aquece o menino de rua, que o faz esquecer da fome, do frio e das dores; não o agasalham, mas batem nele quando é pego em flagrante.

A cidade esta soterrada por papéis de bala, cigarro, sacolas, latas e garrafas, mas ainda não entenderam que se necessita da implantação de lixeiras nas ruas, em todos os quarteirões.

Eles não têm competência para arrumar o próprio quarto, porque acreditar que seriam capazes de organizar a cidade? Inocência ou burrice?

Ah... Mas espera ai. Não estão de braços cruzados. Eles sim fizeram algo em prol da cidade: implantaram a lei “cidade limpa”, que bonito, que maravilha, tudo bem que não identificamos mais nada, que São Paulo foi perdendo sua cor, tudo bem que não adianta mais construir o sonho de uma empresa e com orgulho gravar seu nome no topo do prédio, tudo bem que tudo fica mais feio com a marca das placas, as ferragens expostas dos outdoors, a marca de tinta e sujeira por de trás de cada letra das propagandas, mas agora a cidade está limpa! Vermes insolentes. Vamos sorrindo dessa piada antes que meu corpo vire lixo no chão.

Descobri que o lixo não esta nas ruas, mas no poder, nas câmaras, no senado, na presidência, no governo. O lixo das ruas vota e coloca no poder alguém que lê “Santander Banespa”, e pronuncia “Santo André du Banespa”. Burro seria quem erra como todo ser humano que tem o direito de errar ou seriam os cretinos que escolhem por livre e espontânea vontade ser representado por um troglodita desse?

Sobre lixo nas ruas...

Cidade limpa! Querem desabrasileirar o meu Brasil!!! Na minha São Paulo os feirantes gritam, as ruas tem placas e cartazes, as luzes falam por minha São Paulo, mas meus filhos não verão isso, não viverão isso.

Quem tiver berço, educação, cultura e respeito ainda prefere andar horas com o lixo nas mãos caçando uma bendita lixeira. O resto o deixa escapar de suas mãos, embelezando mais ainda nossas ruas e praças...

Uns amam a cidade, outros nunca vão entender o que ela significa.

Os que a prezam a embelezam de verdade, artistas fazem graffiti, vândalos pixam.

Artistas fazem a poesia nos faróis da cidade com seus malabares e skates enquanto os vermes espalham o medo do perigo do assalto.

Falar sobre o lixo nas ruas... Melhor simplesmente deixar de falar, afinal de contas, nada é construído para virar lixo e ainda não aprendemos o valor de se cuidar disso.

Muito barulho por lixo

5 da manhã. É domingo. O menino acorda feliz. Talvez ele possa conseguir mais do que as habituais sobras de um PF garimpado no lixo do boteco da esquina. É dia de feira. Os caminhões chegam devagar. As barracas são armadas com prontidão. Tudo é feito com um silêncio aterrador, coisa incomum para a classe dos vendedores de leguminosas, verduras e afim. Uma lei recente não permite que eles façam o costumeiro barulho. Com o silêncio todo o menino tem vontade voltar a dormir. Não pode. Se quiser comer tem de começar a sua caça logo.

Os primeiros clientes vão chegando. É engraçado ver como os feirantes se expressam. São as mesmas tiradas, as mesmas frases feitas, tudo em tom ameno e sem graça. De repente um fulano se esquece e solta aquele grito. Todos o olham com esperança e espanto. O indivíduo ruboriza-se e volta aos seus afazeres com uma introspecção digna de uma velha virgem. Todos se assemelham a ele logo depois.

Opa! A primeira laranja cai no chão e sai pingando por debaixo da barraca. O menino entra em cena. Compete com outros pela fruta. Ganha em disposição. Perde em força. Perde a fruta. Os pasteis fervilham e são consumidos com voracidade. Os papéis que o envolvem são jogados ao vento com descaso. Amontoam-se numa lixeira que já não suporta toda aquela quantidade. Alguém pede uma coca-cola. Antigamente o caldo-de-cana não se equiparava a nada em uma feira. Era unânime. Os tempos são outros. A latinha da coca-cola junta-se ao monte de papéis que antes já queriam se separar a cada lufada. Com a companheira inconveniente então a tensão aumentava, o espaço diminuía. Coisa que não dura muito. Temos o orgulho de ser o país líder em reciclagem, e a latinha não permanece ali nem por dois minutos. O menino a leva embora. Aqui a reciclagem não é movida pela consciência publica, e, sim, pelo instinto de sobrevivência mesmo.

A laranja, o papel, a latinha Tudo a mesma coisa. Lixo. Lixo que os garis levam embora ao final da feira. Assim como tudo que por descuido ou descaso caiu das barracas ou que não foi considerado ter as mínimas condições de ser consumido por um povo cheio de pudores quando o assunto é o que vai parar em seu prato, mas não ta nem aí mesmo quando se trata da nossa rua.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Tiros em...aqui...

Tiros.

Eu - Que barulho é esse?

Local - Ih! Liga não. Deve ser os alemão querendo entrar em terreno inimigo.

Eu - Alemão? Hitler? Os nazistas voltaram?

Local - Que isso seu moço! Alemão são os caras que não é da área, mas vira e mexe tenta invadir o pedaço. Gringo só vem pra cá quando a coisa tá feia mesmo. Só com mais de 50 paletó de madeira.

Eu - E a polícia?

Local - Você não bate bem. Os dono da boca de um lado, os alemão de outro, e você quer me botar a polícia no meio disso tudo? O doutor quer um desastre?

Eu - Eu hein. Vou embora antes que piore.

Local - O senhor não tem juízo mesmo. Lá fora o mais esperto cai pela bala mais perdida.

Eu - É todo dia assim?

Local - Para em dia santo. Bandido também é filho de Deus né.

Eu - Não sei como você agüenta viver em meio a essa guerra e...

Local - O doutor tá variando das idéia. Aqui não tem guerra não. É só meia dúzia de tiros à toa, morre um aqui, outro ali, mas não é nada demais...Todo mundo já até se acostumo...Guerra é quando tem exército, morre um monte de gente...

Eu - Exército? O governador do estado não recusou a oferta de incremento das forças policiais pelo exérc...Bom, deixa pra lá. Se continuarmos o senhor tentará me convencer de que o corpo estendido na sala acordará e se levantará quando tudo isso acabar.

Local - .....

Eu - Ora. Vamos. Isso lá é hora pra dormir. Senhor? Senh...

“Os senhores da guerra"

Hoje eu matarei homens que anseiam por viver

Hoje eu morrei, milhares vão sofrer

Pai

O nosso sangue será derramado

Pai...

Em nossa lápide o alheio pecado

Pai...

Meu papai!

Suas muralhas caíram

As verdades se omitiram os sonhos sucumbiram

Eu não sei, aonde querem chegar

Suas muralhas caíram

Os medos se denegriram os erros nos sucumbiram

Eu não sei, aonde vamos parar

Nossas histórias já não são mais as mesmas

E a vontade de viver nos fizeram matar

Corpos empilhados, valores crucificados

Filhos, pais, irmãos, maridos, nenhum homem é só um soldado!

Debaixo do meu capacete, existiam as idéias e os ideais

Dentro da minha farda existiu um coração, com amor e sentimentos reais

Por dentro do meu coturno, pés calejados que findaram a trilha

E a mão que atirava e causava o luto, foi a mesma mão que ontem deu o Adeus pra minha filha!

Nossa luta, nosso sangue, sua causa meu tormento

Na bandeira nossos nomes, no muro do esquecimento

Nossos sonhos sepultados e os nosso corpos no chão

EU SEI QUE FOMOS HERÓIS, NÃO MORREMOS EM VÃO!!!

Nós não morremos em vão!!!

Os senhores da guerra, eles não lutam nela

Não aprendem com os erros, e há mais rumores de guerra

Demonstrações de poder, e ao findar de seu show

Entre mortos e feridos, diz pra mim quem ganhou

terça-feira, 8 de maio de 2007

Pecado Verbal

Utópicos mas jamais ilusórios

Dissertativos, narrativos, secos e emotivos

Negros e brancos, escravos e carrascos

Açoites, açoitados...

Das riquezas na senzala

os tesouros por de trás das trincheiras

o platonicismo em meio a realidade

Quebrando todas as regras, nossa verbalização

Transgredindo normas e leis... pecadores!

Tudo que existe aqui dentro, puro ou imundo, doce ou podre,

Sem normas ou restrições, sem censura,

expressionismo, verdades

um ideal

uma idéia que não será reprimida,

pontos, visões,

ataque poético, adultos, muleques

pensamentos submersos em atitudes

desigualidade vitalícia, na contra Mão do processo

explorar os absurdos diários de um mundo sobrenatural

Sendo loucos contrariando os sábios, Pecado Verbal.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

O malandro mandou a letra. Ouviram-se resmungos. As mesas do bar tornaram-se um campo de batalha. Batalha travada com palavras mal ditas, argumentos benditos, palavras malditas, impropérios bem ditos. Batalha banhada com suor, sangue de boi e lágrimas dos mais sensíveis ao tema. É claro que todo conflito tem seus limites, alguém leu em algum lugar que os progenitores deveriam ser honrados, interpretou assim, que deveria respeitá-los, já quem escreveu deveria estar pensando na origem nobre dos pais. Mas voltemos á discussão. Beatas passavam na rua. Sim, na rua. Ficaram ofendidas, excomungaram mentalmente o tal e a todos que lhe deram ouvidos. Elas podem fazer isso?
Pois bem, o que foi proferido que gerou tamanho rebuliço. Elas ouviram falar que Deus era negro. Um fulano disse outro era melhor em certos aspectos. Alguém melhor que Deus? Disseram que o outro também era Deus. Dois Deuses? Passaram por cima de todas as leis sacras, especialmente da primeira, que diz que...que...bom, as beatas não se esqueceram e entraram na pendenga.
Elas proferem pragas respondem bíblicas aos hereges ao que esses lhas respondem com palavras que não devem ser ditas em dias santos. Nem nos outros.
Um clérigo entra no estabelecimento e sem se dar conta de tudo que se passa a sua volta, pergunta, “E o Pelé hein. Como joga! É ou não é um Deus”.