quarta-feira, 15 de outubro de 2008

O que é do diabo...

Hoje tirei o dia pra cuidar de mim
Nem me venha com “pra onde vamos?”
Você não está nos planos
Sinto muito ter que agir assim

Na verdade, não sinto, mas ao desdentado faminto,
Melhor sonhar com picanha do outro lado do muro
A ter de se virar aos murros com pedaço de pão duro
Não se preocupe, não faço somente a você distinto.

Da porta pra dentro, só eu e o que poderia ser eu
Sem ter que ser o mundo todo, entendeu?

Dito isso, meu bem, livre-se dessa cara
Amarrada, Enrugada, Emburrada que só ela
Larga mão de querela pela aquarela
Trate de dar um jeito nela,
Pois, a ela, palhaço nenhum sara

Se um dia voltar a me preocupar com os outros
Você será o primeiro, não o único
Palavras ao ar, sou verso solto

E não chie! Sabes bem que nunca o fora
E não seria agora, depois de ter tido
Eu comigo mesma, um aparte
Que tal sorte, mudaria destarte

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Fotografia amarela de fundo de gaveta

Pensei que nunca perderia seu sorriso em meio a outras bocas forradas de dentes que não me dizem nada. Você não devia estar lá mesmo. Faz tanto tempo. Meus olhos já não ajudam. O que não enxergo com a vista, reconstruo com o pouco avivado pela memória. Ah! Esta maldita que me foge quando eu mais dela preciso. Se não é para fazer reviver o que jaz nas curvas da existência, para que serve então as lembranças da minh'alma. Espere! Agora sim. Vejo as bochechas arquearem-se. Descortinam-se lentamente. Aumenta a expectativa da platéia. Eu sou a platéia.
O espetáculo já vai começar. Desde que entrou em cartaz, compro todos os ingressos. Não divido. Rasgo todos. Reservo um único bilhete no bolso direito. No esquerdo, guardo aquele lencinho azul desbotado. Presente de aniversário de vinte e poucos anos, lembra? Eu não gostei muito. Mas foi nele que minhas lágrimas pousaram quando apareceram com aquela coroa cravejada de flores. "Deixem de bobeira! Ela só está dormindo. Dormindo. Eu também quero dorm...". O pedaço de pano velho e amarrotado - cor de céu quando chove - mais uma vez, faz companhia ao cinza dos meus olhos. Nuvens à vista naquele céu de lembranças. Elas não me deixaram. Nele, desaguam as águas que procuram ocupar-me, quando volvo os olhos atentamente para aquele espetáculo repetido, incansavelmente assistido.
Toc toc. "Todo mundo tá esperando você. Traz logo esse troço". Pedra no lago. O encanto de Narciso é quebrado. Volto a mim. Resoluto. A figura mitológica teria procurado um espelho. Eu só tinha aquela fotografia para tentar me encontrar. Encontrá-la. A imagem amarelada de jovens sorridentes. Por que sorriem? Ah, se soubessem o que aguardam vocês. Poupariam estes sorrisos. Este morreu de amores por aquela ao lado da professora. Aquela virou freira e..não gosto nem de lembrar. Aquele ali se casou com aquela moça linda. Cobiçadíssima.

"divagando devagarinho, sem pressa, a coisa acaba.."