Assoviam na minha janela
É o vento chamando pra ver dela
Um deserto de sangue
Lá ao longe
No canteiro, uma rosa bem vermelha
Sorri pra mim, sem graça
Como quem tenta, mas não disfarça
Toda a solidão que espelha
Assoviam na minha janela
É o vento chamando para ver dela
As dunas móveis do deserto
Chegando a galope, num trote sem teto
Sozinha: ela, majestosa, reina,
Teima, a teimosa da pobre rosa.
O verde súdito cede sem luta
Diante de mil amarelas cobras.
E cabras marcados pra morrer na labuta
Pisam nas flores do canteiro de obras
Assoviam na minha janela
É o vento chamando pra ver dela
O deserto cinza, roxo coagulado, lilás
Tantas cores no olho, já nem sei mais
- Fecha a porta...que o deserto...
Não! Apaga a luz...já está perto...
Silêncio...já não adianta, eu todo areia.
- Calma, ainda resta o tal assovio.
- É mesmo! Então, nem mais um pio.
- Mas ouça: este assovio é barulho de britadeira
Assoviam na minha janela
É o vento chamando pra ver dela
O deserto aqui dentro
No meio da sala, com os pés na mesa de centro.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Bem bonito.
Mano, perfeito. Muito bem feito. Parabéns e adicionei aqui, virei seguidor.
Postar um comentário