quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Infidelidade/ Traição

Em tons confessionais...


De meros desconhecidos cuja vista sequer se encontrava, passamos rapidamente a íntimos confidentes. Com a mesma rapidez que a vida se trouxe, fez questão de se tornar tão próximo a mim que juntos não éramos nada senão aquilo que mais se aproxima do significado de cumplicidade. Havia empregado para isso uma faceirice tão forte a ponto de destronar a timidez reinante das primeiras palavras. Veio até mim caminhando. Eu mal andava. Em pouco tempo corríamos juntos.

Eu procurava fazer dos meus movimentos algo que se assemelhasse aos seus. A qualquer tropeço, não temíamos a queda e a aspereza do chão, pois sabíamos que encontraríamos amparo no aconchego do braço um do outro. Toda injúria proferida contra um de nós encontrava no outro um defensor ferrenho e seu principal revogador. Nossa relação se construía na diversão, consolidava-se na provação e como resultado transbordava confiança, a fazer acreditar quem nos visse falar do outro que a amizade que nos unia havia evoluído, e esse novo sentimento era, na verdade, o que proporcionava tal elo entre nós. Como se a só amizade já não fosse suficiente para manter unidos dois seres e que houvesse estágio superior a ela.

Aqueles contratos a que se propõem os amigos inseguros do estado de felicidade de que gozam não eram necessários entre nós. Tudo estava implícito entre nós. Ao “eu te amo” era acrescido por meio de um olhar o “eternamente”. E isso bastava. Era absorto em toda essa prazerosa condição que eu arriscava lançar-me ao vale das sombras munido apenas de suas lembranças e de uma certeza. A de que você estaria me esperando ao final de tão tenebroso caminho.

O que aconteceu para que tão surpreendentemente quanto o arrebatamento que o trouxe a mim, tornasse você a fonte das injúrias; o responsável por me levar ao solo das formas mais bruscas. Subitamente. Sem motivos aparentes nem aviso prévio sua conduta foi minando tudo que de melhor poderia existir entre duas pessoas. Traiu, então, aquele olhar que tendia ao infinito sem se abalar e transportava-me com igual tranqüilidade para qualquer lugar dessa imensidão, aquele olhar que eu podia confiar cegamente que me poria tão logo eu quisesse sob o conforto de seu alcance.

Não devia ter semeado em mim a semente da confiança se tinha ciência da sua limitação em não conseguir preservar aquilo que com os olhares não se cansava de declarar.

2 comentários:

Nathalie disse...

Heltooon, que foda! o_o

Anônimo disse...

Ei, Hellton!
Parabéns, gostei muito desses dois últimos.